domingo, 24 de maio de 2015

Agressões: qual a postura do(a) professor(a)?


Sim, sou professor e já entrei em salas de aula que muitos se negariam a colocar os pés. 

Não, não vou compartilhar o vídeo do estudante agredindo a professora.

Primeiro porquê, ao contrário do que a televisão pensa, mostrar violência paras as pessoas não ajuda a diminuir as ocorrências.

Segundo que se trata de um adolescente com problemas neurológicos, que cometeu um ato infracional. Veicular sua imagem é crime.

Terceiro, e muito mais importante, o fato de ver muitas pessoas perplexas com o acontecido é bom, o ruim (eu diria muito ruim) é que as pessoas acreditam que a professora que sofre a agressão deve devolver na mesma moeda, com agressão física, inclusive, pelo menos oito professores que conheço disseram que "na hora poderia dar uns tapas de volta".

Não se ensina nada a um agressor, agredindo-o de volta;
Qualquer professor, em sala de aula, precisa conhecer as leis que lhe garantem seus benefícios mas também as que dizem como devem se comportar, o que podem ou não fazer. E levantar a mão para um aluno, o professor não pode, em hipótese alguma.

Já pensou se fosse permitido dirigir sem aulas de legislação, mas só com aulas práticas? Mas o professor pode entrar na sala de aula, hoje, sem ter lido uma linha dos Parâmetros Curriculares Nacionais, ou pior ainda, sem conhecer a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, ou o atual Plano Nacional da Educação, ou o Plano Nacional do Livro Didático. Isso não é um absurdo? As faculdades e 90% dos estudantes de licenciatura acham que não.

Para mim, é imprescindível conhecer essas ferramentas. Reclamamos tanto do Brasil, nos achamos tão inferiores. Temos uma das melhores constituições do mundo, muitas leis bem pensadas e construídas por ótimos políticos, mas achamos que somos seres bons demais para usar o que o Brasil oferece.

Tudo o que acontece na sala de aula é responsabilidade do professor. O professor é responsável pelos alunos. Se não quiserem isso, não sejam professores. Se vamos acreditar que é legítimo agir contra a lei, não podemos nem entrar na sala de aula.

A postura do professor depende de vários fatores. E implicam em vários caminhos. Se igualar ao agressor não é um deles.

Como meu grande amigo e grande educador Henrique Almeida disse "Depois reclamamos da polícia, estamos fazendo o mesmo em sala de aula. Hipocrisia, não?"

Mas aí, perguntam-me qual deveria ser a postura de um professor que passa por isso. E eu já passei.Certa vez, sem motivo algum, um aluno me disse "Professor, se eu não passar, invado seu barraco de te mato."

Se um aluno me agredisse, como no vídeo, no primeiro dia de aula, sem que tivesse havido nenhuma interação, boa ou ruim, entre nós. Ou se eu acreditasse que nada do que eu tivesse feito pudesse criar uma agressão a partir dele, eu apresentaria o caso à direção, levaria ele, ou chamaria alguém para levar. Tanto ele quanto quem estava filmando, ou rindo.

Pediria suspensão e só entraria na escola de novo com o pai, mãe ou responsável e depois de conversar comigo.

Se algo aconteceu que pode gerar agressão (e agressão nunca é justificável), eu faria a mesma coisa, mas o aluno teria a chance de falar também e a coordenação pedagógica poderia conversar comigo dando sugestões para contornar a situação (quando eu era aluno, uma professora criou uma situação em que a sala respeitava todos os professores menos ela. Isso é possível SIM.) Mais uma vez, repito que nenhuma agressão é justificável, nem do aluno, muito menos do professor.

E se somos professores, temos a obrigação de saber ensinar os assuntos de nossa matéria. Mas também temos a obrigação de saber o que diz a LDB e os PCNs. Quem trata as disciplinas de educação como mais um empecilho, porque tem que ler textos demais, ou não dá importância para o aprendizado sobre as teorias da educação, na minha opinião, pode ser professor, mas educador não é. E é por falta de educadores que a escola possui todos esses problemas enormes, e eu concordo que esses problemas são terríveis, mas ao entrar na sala de aula temos o dever de mudar essa realidade e não de piorá-la, criando mais problemas.

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