segunda-feira, 23 de março de 2015

A guerra perdida contra o tráfico.



A população carcerária brasileira cresceu, em média, 20% por ano, nos últimos 20 anos, enquanto que a população brasileira cresceu, em média, 1,8% por ano, nos últimos 20 anos.

Claro que o crescimento populacional não é linear e tende a diminuir, mas se continuarmos a acreditar que o crime é a causa de nossos problemas de segurança pública, antes do final do século, todos os brasileiros estarão presos, ou podemos começar a construir os campos de concentração para fuzilarmos mais de 80% da população.
É isso que queremos construir? 

Vejo muitas manifestações de "fora corruptos", "o Brasil acordou", etc. Vejo muitas pessoas, de ideologias diferentes, defendendo, a partir do seu ponto de vista, um país melhor no futuro. Mas muitas dessas pessoas são as mesmas que acreditam que o combate ao crime organizado deve ser a partir da repressão policial. Querem, afinal, que seus filhos e netos vivenciem o Brasil que eles se dizem veementemente contrários.

Na nossa lei, prender é a última instância. Não há o direito de matar, salvo em situações extremas, que exigem respeito à(s) vítima(s). O Estado não pode matar quem bem entender, nem dizer que "se há 25, 30 pessoas e estão agindo contra a polícia a polícia vai matar e não dá para saber quem é bandido e quem não é." - Maurício Barbosa, Secretário de (IN)segurança pública da Bahia. Tão pouco, o estado pode dizer "um policial é como um artilheiro na frente do Gol. Tem segundos para decidir o que fazer. Ele arrisca e se for um golaço, a torcida vai aplaudir. Se não for gol, ele será culpado." - Rui Costa, (Des)governador da Bahia. Então, quer dizer que entre marcar um gol e atirar numa pessoa, o que importa é a reação da torcida? E se for a torcida adversária? Um gol de um time pode rebaixar o rival daquele que está perdendo. E quem lhe disse, seu filho da mãe, que a população deve aceitar as ações da polícia pela quantidade de pessoas mortas?

Nunca vi a polícia atirar em todo mundo que está perto de um corrupto, no momento da prisão, porque "estavam no lugar errado, na hora errada". Mas no meu bairro pode, né? Não! Não pode em lugar algum. Você que defende a ação da polícia no Cabula, em Cosme de Farias, em São Caetano, na Suburbana, em Sussuarana e em todos os bairros da periferia, também defende que nesses bairros não há ninguém honesto (pois seus argumentos sempre rondam essa palavra, como se fosse um conceito engessado), ou que não há lugar para os pobres no Brasil.

Aqui há pena de morte, e os mortos não têm direito à última frase, nem para se declararem inocentes.

‪#‎ChegaDeViolênciaeExtermínioDeJovens‬.

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