domingo, 12 de maio de 2013

Quem é esse(a) tal homossexual?


Sou jovem, católico apostólico romano, batizado e crismado. Talvez essas informações sejam suficientes para que você feche a janela e não volte mais aqui. Mas eu peço que leia até o fim.

Muito tem-se falado sobre a luta por direitos iguais, que os homossexuais travam desde os primórdios da humanidade, mas que ganhou força nos últimos anos. Confesso que, para um cristão, entender realmente quem é o cidadão homossexual é uma tarefa difícil. Isso porque crescemos bombardeados, rotineiramente, por declarações, ou opiniões de alguns padres e até familiares, sobre a proibição irrevogável que há na Bíblia sobre as relações homossexuais. Assim, eu, como a imensa maioria dos cristãos, assumi o discurso de que o homossexual é amado por Deus, mas a homossexualidade não, tornando os "portadores" dessa "anormalidade na natureza humana", pessoas que não podem ser elas mesmas, se quiserem seguir a Cristo.

Como não posso falar sobre o que não vivo, nem o que não vi, devo ater-me à minha igreja. Oficialmente, um homossexual pode ser batizado, fazer primeira comunhão, ser crismado e, até, ordenado. Dentro da igreja, quem é católico mesmo, sabe que tudo depende da consciência da pessoa, se ela diz que não "está em pecado", ninguém poderá dizer o contrário. Mas sabemos que muitas pessoas vivem para tomar conta da vida dos outros, e os comentários destrutivos são frequentes, quando um homossexual vai à fila da Comunhão. Quem deveria ser o primeiro a acolher (o cristão leigo), é o primeiro a condená-los e afastá-los do altar. Mas é claro que há muita mão do alto escalão da hierarquia católica, nesses atos.

Bom, como todos sabem, a Igreja não permite que homossexuais casem-se. Ela orienta que eles aceitem sua sexualidade, mas que abstenham-se das relações sexuais e que levem isso como "uma cruz", um caminho para a "salvação". Esse é o posicionamento oficial. O que vemos aqui é uma negação de que a homossexualidade é uma identidade, ou um gênero, mas sim que é uma opção das pessoas, que elas deveriam "voltar atrás" e optarem por não viverem sua sexualidade. Na minha opinião, só há três maneiras de convencer-se do discurso que as Igrejas usam: primeiro é a situação acima (uma opção que pode mudar), ou uma doença, que pode ser curada, como algumas pessoas pregam, ou então, que a pessoa está possuída por um espírito impuro (ou maligno), como também estão falando por aí. (Eu vou dar um tempinho para você parar de rir)...

Sendo modesto, é um pouco contraditório, a pessoa acreditar que deve amar a todos como ama a si mesma, mas também acreditar que o homossexual está numa das categorias acima. "A homossexualidade foi encontrada em 245 espécies, o preconceito só em uma.", como dizia uma postagem no Facebook. As Igrejas precisam entender que ninguém gosta de ser oprimido e, na conjuntura de hoje, ser diferente da maioria gera muitas lágrimas de aborrecimento, angústia e temor. Por que alguém iria ESCOLHER ser homossexual? Não é uma roupa, que troca-se todo dia; é preciso aceitar-se, antes mesmo de ser na prática. E, na boa, ninguém escolhe ser oprimido, motivo de chacota. Simplesmente a pessoa é, e às vezes não tem a resposta do porquê ser assim. As outras duas alternativas, não precisa explicar porquê estão erradas. A ciência já deu respostas além do necessário.

Também, o que vejo de mais inquietante na comunidade LGBT é o discurso das Igrejas contra a União CIVIL de homossexuais. Eu pergunto: O QUE AS IGREJAS TEM A VER COM ISSO? Esqueceram que o país é Laico??? (na verdade sim, mas muitos os fizeram lembrar). Nenhuma igreja pode querer que o legislativo siga a Bíblia, porque se há esse precedente, o Islã terá todo o direito de obrigar que hajam leis, feriados, decretos sob a regência d'Alcorão. Os Espíritas poderão usar os livros de Kardec para pedir que se criem leis, ou que deixem de existir. Os adeptos do Candomblé poderão decretar que todos os Brasileiros produzam oferendas aos Orixás. Os índios nos obrigariam a adorarmos o Sol, a dançarmos a dança da Chuva, a fazermos seus rituais com Maconha, com sangue, etc... Estão vendo como a nossa religião nos olhos dos outros é refresco?

Assim como a participação de Negros nas Missas era negada, assim como foi um processo lento  para que o Estado pudesse separar casais, também será a "alforria" dos homossexuais. O que não pode acontecer, nunca, é a minoria tornar-se opressora, quando consegui virar maioria. Direitos iguais são direitos iguais, nada mais do que isso. Mas eu acredito muito nas causas LGBT. É claro que há exageros de todos os lados. Devemos buscar o equilíbrio.

A "Bíblia" do Congresso DEVE ser a Constituição. Qualquer igreja tem o direito de negar-se a acolher quem quer que seja, ou negar-se a celebrar casamentos; mas não podem levar suas regras para além dos seus templos e/ou fiéis. Senão, a casa de Maria Joana que já temos, desabará. E eu não tenho dúvidas sobre a opinião de Deus sobre Sua palavra na política: "Dai a César o que é de César e a Deus, o que é de Deus".

Essas são palavras de um Católico, Apostólico Romano, militante da PJ, adepto da Teologia da Libertação, estudante de Licenciatura em Matemática - UFBA.

Axé.

3 comentários:

  1. Apesar de discordar do seu "é algo que se aprende a conviver e a aceitar-se", gostei demais da sua posição e concordo com seu pensamento, principalmente no trecho em que diz "É claro que há exageros de todos os lados".

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  2. Como sempre palavras de mestre, mas como Jeidsan Pereira, eu quero que vc me explique um pouco mais sobre esse ''é algo que se aprende a conviver e a aceitar-se''. Mas o resto do texto esta muito bom, palavras muito bem colocadas, e derrubando uma crença de que todo ''Católico apostólico romano'' é contra a homossexualidade.

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  3. Bom, eu precisava de um argumento e no contexto, como estava falando sobre toda a perseguição que os homossexuais sofrem, é preciso aceitar—se para seguir em frente. De certa forma, muitos acham que há algo errado consigo, antes de assumirem sua sexualidade.
    Mas a parte do "conviver", eu vou retirar do texto. Valeu!

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